É Moçambicano, Técnico de Medicina e integra, desde Abril de 2019, a equipa da Médicos do Mundo no Campo de Desalojados de Ndeja, John Segredo, na província de Sofala, Nhamatanda, em Moçambique. Falámos com Saringo sobre o trabalho que realiza diariamente no terreno para apoiar as pessoas afetadas pelo ciclone Idai.

Saringo, chegou à Médicos do Mundo Portugal, pelas mãos da congénere Espanhola, que o convidou para colaborar com a organização, integrando missões de emergência humanitária de apoio aos sobreviventes do Ciclone Idai.

Desde então, manteve-se a colaborar com a delegação Portuguesa da Médicos do Mundo, depois de esta ter assumido a coordenação e apoio ao Campo de Desalojados de Ndeja, John Segredo, que abriga cerca de 400 famílias, num total de 2.100 pessoas.

Antes disso, Saringo trabalhou nove meses em Pemba, Capital da província de Cabo Delgado, na costa nordeste do país, logo após à sua formação, como Técnico de Medicina.

Seguiram-se seis meses no Centro de Saúde de Pea, com intervenção na área da saúde mental, e dois meses na UNICEF.

A entrevista com Saringo, retrata de forma fiel, o testemunho de quem ajuda diariamente os desalojados em Ndeja.

 

Repórter: Em que consiste o seu trabalho no Campo de Desalojados de Ndeja?

Saringo: Consiste na triagem de adultos, na intervenção em casos de saúde mental e, uma vez por semana, em visitas domiciliárias para prestação de cuidados básicos de saúde.

 

Repórter: Como tem sido esta experiência?

Saringo: Tem superado todas as expetativas. Tem sido uma experiência muito enriquecedora, quer pelo acumular de experiências em contexto de intervenção e de formações, quer pelos conhecimentos adquiridos com médicos das delegações portuguesa e espanhola da Médicos do Mundo.

 

Repórter: Quais são os principais problemas de saúde das pessoas que vivem neste campo?

Saringo: Malária, diarreias e pelagra, que até mereceu um alerta das autoridades internacionais.

 

Repórter: O que é que está a ser feito para ultrapassar os problemas e ajudar a melhorar a saúde da população?

Saringo: Com a ajuda da Médicos do Mundo, têm sido realizadas junto da população, diversas ações de formação sobre higiene na culinária, palestras para as comunidades, psicoterapia para as pessoas com problemas mentais, domicílios às pessoas com deficiências físicas e vários programas de educação para a saúde.

 

Repórter: Quais os desafios que encontra diariamente?

Saringo: O maior desafio com que nos deparamos é o tratamento das pessoas, já que nem ambulância temos para as levar para o hospital.

 

Repórter: Os sobreviventes que se encontram no Centro de Ndeja, ficaram sem nada. Qual é o estado psicológico destas pessoas e como é a sua vida diariamente?

Saringo: Efetivamente estas pessoas ficaram sem nada e apresentam-se muito debilitadas psicologicamente. Contudo, graças à ajuda da Médicos do Mundo e ao apoio de psicoterapia, há pessoas que começam a superar a situação e a evidenciar francas melhorias.

 

Repórter: Face à proximidade com todas as pessoas do Centro, com certeza que ouviu muitas histórias. Há alguma em particular que lhe tenha tocado e marcado mais?

Saringo: Em Junho de 2019 atendi uma senhora de 65 anos que, após o ciclone Idai, para se salvar, foi obrigada a estar três dias inteiros em cima de uma árvore. Foi um relato muito emocionante que me levou a chorar, apesar de me considerar muito forte.

 

Repórter: Sabemos que houve um caso de sucesso na área da saúde mental. Conte-nos um pouco desta história?

Saringo: Trata-se de um doente que apareceu aqui no Centro com delírios e alucinações. Contudo, com tratamento adequado e visitas domiciliárias, recuperou e encontra-se neste momento muito melhor, já não apresentando quaisquer delírios ou alucinações.

 

Repórter: O que é que nunca vai esquecer desta experiência em Ndeja?

Saringo: Trabalhar com a Médicos do Mundo marcou-me muito e fez-me aprender bastante, por isso nunca irei esquecer. Espero que se mantenham aqui durante muito tempo, para poderem continuar a ajudar a população. Regressar ao Projeto Ungumi

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