As recentes ofensivas do grupo armado M23/AFC nas cidades de Minova e Goma, desde 19 de janeiro de 2025, forçaram centenas de milhares de pessoas a abandonar as suas casas, quando as capacidades de acolhimento e assistência aos deslocados já estão sobrecarregadas.
Situação catastrófica
De acordo com as Nações Unidas, a escalada de violência já provocou o deslocamento de mais de 230.000 pessoas desde o início do ano no Kivu do Norte e Kivu do Sul, onde se encontram 4,6 milhões de pessoas deslocadas internas.
“A situação humanitária é catastrófica. Entre os 1.672.220 de deslocados apenas no Kivu do Sul (de acordo com o Relatório de Coordenação Humanitária Provincial, Kivu do Sul-OCHA), milhares de pessoas que se encontravam em locais e em famílias de acolhimento voltaram a deslocar-se dentro da província, nas regiões de saúde de Mianda, Kusisa, Matitura e Tushunguti. As equipas da Médicos do Mundo que trabalham nestas áreas registaram 14.538 deslocados entre 4 e 15 de janeiro. Este número continua a aumentar desde então,” alerta Mamadou Kaba Barry, coordenador-geral da Médicos do Mundo na República Democrática do Congo.
Organizações humanitárias sem acesso a todas as áreas afetadas
“Tanto no Kivu do Norte, como no Kivu do Sul, as pessoas estão privadas de acesso a alimentos, água, eletricidade (em Goma) e cuidados de saúde. Devido à insegurança nas estradas e ao risco de ataques, as organizações humanitárias, incluindo a Médicos do Mundo, não conseguem aceder a todas as áreas afetadas. Isto impede-nos de entregar provisões médicas essenciais (equipamento hospitalar, dispositivos médicos, etc.) e medicamentos vitais aos centros de saúde e hospitais. A situação é extremamente alarmante: por exemplo, os cuidados durante o parto não podem ser prestados de forma adequada, nem assegurado o tratamento para a desnutrição aguda. Mais uma vez, são os civis que pagam o preço.”
Apelamos a todas as partes envolvidas no conflito para garantirem o acesso humanitário desimpedido, permitindo que organizações como a Médicos do Mundo disponibilizem cuidados de saúde e proteção às populações afetadas. Tal requer um forte compromisso da comunidade internacional no apoio às organizações humanitárias para garantir que a ajuda vital chegue a quem dela mais necessita.
A nossa resposta
A Médicos do Mundo está a responder à situação através de um programa de emergência em seis regiões de saúde (terras altas do território de Kalehe, no Kivu do Sul, e Tushunguti).
As nossas equipas operam num contexto de conflito, onde o acesso humanitário é severamente restrito. As principais ações da Médicos do Mundo incluem:
- Disponibilização de cuidados de saúde primários e secundários
- Garantia de apoio nutricional para crianças menores de cinco anos
- Oferta de serviços de saúde materna em centros de saúde e hospitais
- Melhoria da infraestrutura sanitária e de acesso à água nas instalações de saúde
- Prestação de cuidados para sobreviventes de violência baseada no género, incluindo violência sexual
A Médicos do Mundo também está a realizar atividades semelhantes nas terras altas de Mwenga e Fizi. Desde dezembro de 2024, após os combates nestas áreas, 75.000 pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas, procurando refúgio em florestas ou junto de famílias de acolhimento que já vivem em condições precárias.