Pietro Chakal - Médicos del Mundo

Mais de 2,3 milhões de pessoas receberam o apoio da Médicos do Mundo ao longo deste ano mais longo na Ucrânia, através de várias atividades. Ao fim de um ano de guerra, a organização faz um balanço das atividades e alerta para a crise de saúde sem precedentes no país.  

Passado um ano de guerra na Ucrânia, as suas populações estão ameaçadas por uma crise de saúde sem precedentes. A Médicos do Mundo (MdM) faz um balanço deste ano mais longo, que pareceu não ter fim para os que foram afetados pelas hostilidades, através do lançamento do “Relatório Ucrânia – O Ano mais Longo”, onde apresenta alguns dos principais dados sobre a sua intervenção face à emergência. 

A organização lança ainda o apelo apela à comunidade internacional para que faça tudo o que estiver ao seu alcance, no sentido de atenuar o sofrimento das populações, prevenir mais mortes de civis e promover o acesso aos serviços mais essenciais às suas vidas, como são os cuidados de saúde. 

Após um ano de intenso trabalho, em conjunto com o sistema de saúde ucraniano, a MdM alerta para o facto do sistema de saúde estar em risco, em consequência dos diversos ataques às infraestruturas de saúde e da falta de medicamentos e de material de saúde, bem como da restrições de movimentos das populações, que as impedem de obter cuidados de saúde. 

Crise sanitária 

Os hospitais e os centros de saúde estão a trabalhar para responder ao desafio da prestação de cuidados aos doentes, apesar das frequentes interrupções no fornecimento de energia elétrica, aquecimento e no funcionamento do equipamento médico. “Os danos nos hospitais e centros de saúde estão a condenar a população ucraniana a cuidados de saúde deficientes”, alerta Pepe Fernández, presidente da MdM Espanha. 

Além disso, os grupos que sofrem mais com esta situação são aqueles que já eram vulneráveis antes da guerra, especialmente as pessoas com doenças crónicas, com necessidades especiais, os mais idosos, grávidas ou doentes com cancro.  

Chegar aos centros de saúde com os abastecimentos humanitários necessários não é uma tarefa fácil. O transporte e a entrega de medicamentos e consumíveis médicos doados é particularmente complexo, devido aos danos em estradas, infraestruturas e à inexistência de percursos seguros.  

Deterioração da saúde mental

Os números são chocantes. Há mais de sete mil mortos e de 11 mil feridos entre a população civil, 17,7 milhões necessitam de ajuda humanitária, cerca de seis milhões de pessoas deslocadas internamente e oito milhões de refugiados. No entanto, muitas das feridas causadas pela guerra na Ucrânia mantêm-se invisíveis. Com a população a continuar a experienciar eventos traumáticos, sem o fim do conflito à vista, a saúde mental deteriora-se cada vez mais. 

A saúde mental é um dos maiores problemas na Ucrânia, especialmente entre as pessoas que tiveram de se deslocar duas vezes” refere Bashar Kailani, coordenador geral da MdM. “Por exemplo, um grande número de pessoas afetadas pelo bombardeamento de edifícios residenciais em Dnipro, em janeiro, que provocou dezenas de vítimas, já tinham sido deslocadas do oblast de Donetsk. Os que sobreviveram tiveram de testemunhar as mortes dos seus amigos, que eram também pessoas deslocadas internamente. Numa altura em que já pensavam que se encontravam totalmente a salvo.

A MdM procura dar resposta a este problema, com a inclusão de psicólogos nas suas unidades móveis, que disponibilizam cuidados de saúde a pessoas deslocadas e a outros elementos da população. Além disso, promove sessões de terapia de grupo, assim como treino em saúde mental para enfermeiros, parteiras, assistentes sociais e outros profissionais, e oferece apoio de saúde mental através de uma linha telefónica. 

Salvar vidas, sem obstáculos

A MdM apela a todas as partes envolvidas no conflito para que assegurem acesso humanitário incondicional. Qualquer ato de violência contra a população civil, trabalhadores humanitários e infraestruturas civis deve cessar definitivamente. 

Apesar das necessidades humanitárias crescentes, particularmente no leste e sul da Ucrânia, o acesso humanitário aos territórios controlados pelas forças russas continua a ser negado e é quase impossível aos trabalhadores humanitários chegar às comunidades com maiores necessidades. 

As organizações humanitárias apelam à comunidade internacional para a necessidade urgente de atividades de advocacy ao mais alto nível, que incidam especifica e autonomamente sobre a prioridade do acesso humanitário.

O que a MdM está a fazer

Em 2022:

  • 29 mil pessoas receberam cuidados de saúde diretos da MdM.
  • 886.313 pessoas foram apoiadas por donativos de equipamentos médicos e outros itens essenciais fornecidos pela MdM.
  • 17 clínicas móveis foram deslocadas para toda a Ucrânia para chegar às populações mais vulneráveis.
  • Mais de 120 infraestruturas de saúde e cerca de 90 centros comunitários temporários foram apoiados pela organização.

A MdM está na Ucrânia desde 2015. Antes da ofensiva russa, a organização trabalhava sobretudo no leste do país, a disponibilizar cuidados de saúde primários, incluindo saúde sexual e reprodutiva, saúde mental e serviços de apoio psicológico em áreas controladas e não controladas pelo governo, nos oblasts de Donetsk e Lugansk.

Desde o início das hostilidades, a MdM direcionou os seus esforços para o apoio ao sistema público de saúde e infraestruturas de saúde, através da entrega de medicamentos, equipamentos médicos, consumíveis médicos e kits de maternidade, entre outros, em várias províncias do país. 

Saiba mais sobre a nossa intervenção na Ucrânia.


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Agradecemos aos nossos parceiros institucionais e corporativos, assim como às fundações e a todas as pessoas que tornaram possível a nossa resposta à emergência.

Com a ajuda de todos, vamos continuar a chegar onde há alguém que precise de nós.