Ao longo de dois anos, o projeto Ungumi, em Moçambique, promoveu a saúde de uma população de cerca de 60 mil habitantes do corredor Dondo-Savane, afetadas pelo ciclone Idai em 2019.

Está concluído o projeto Ungumi, que juntou a Médicos do Mundo (MdM) e a APOIAR, com o financiamento do Instituto Camões, para responder a um conjunto de necessidades na área da saúde, agravadas pela passagem do ciclone Idai na região centro de Moçambique, em março de 2019.

Entre 2020 e o início deste ano, o projeto teve como população-alvo cerca de 60 mil pessoas de comunidades rurais do corredor Dondo-Savane, distrito do Dondo, na província de Sofala.

Abrangemos...
  • 4.000 grávidas e mães de bebés até aos dois anos de idade de 4 comunidades. 
  • 53.920 beneficiários de 5 centros de saúde.
  • 1.000 beneficiários de 5 comunidades. 

As várias atividades realizadas no terreno pretenderam atender às necessidades essenciais de saúde, nutrição e saneamento, assim como contribuir para que estes sistemas fossem restabelecidos e fortalecidos, para fazer face a outras catástrofes naturais que possam ocorrer no futuro.

 

Mapeamento através de georreferenciação 

Uma das primeiras atividades realizadas no âmbito do projeto Ungumi foi o mapeamento através de georreferenciação, um trabalho inovador que abrangeu, enquanto projeto piloto, a comunidade de Nhampuépe, com 124 agregados familiares.

Mapeámos...
  • 132 unidades de alojamento
  • 19 furos ou poços de água
  • 12 latrinas

Este mapeamento disponibilizou ao projeto e aos gestores da área da saúde uma importante ferramenta para o planeamento de ações de vigilância, prevenção e controlo de doenças transmissíveis e não transmissíveis. Permitiu ainda visualizar a distribuição espacial de fatores de risco ambientais e associá-los a determinantes sociais de saúde locais, entre outros benefícios.

 

Inquérito para criação de perfil comunitário 

Foi promovido um inquérito para ampliar o conhecimento sobre o estado, comportamento e outras questões de saúde dos residentes no corredor Dondo-Savane, por forma a adequar a prestação de cuidados de saúde às necessidades.

Inquirimos...
  • 1.612 agregados familiares, com uma taxa de resposta de 100%.

Com estes questionários à população, pretendeu-se reforçar a qualidade da prestação de cuidados de saúde primários.

Uma das ações de formação para técnicos de saúde realizadas no âmbito do projeto Ungumi.

 

Formação para técnicos de saúde 

O projeto Ungumi contou com uma importante vertente de formação para técnicos de saúde em áreas identificadas como prioritárias, face ao contexto pós-ciclone Idai e a outros eventos climáticos extremos que possam ocorrer. O objetivo foi contribuir para o aprofundamento e desenvolvimento de competências, com vista à prestação de cuidados eficazes e eficientes.  

Realizámos...
  • 64 horas de formação, com a participação de 140 profissionais de saúde e ativistas.

Para complementar este programa de formação, foi implementada uma formação in loco em serviços curativos e preventivos, com vista à implementação de normas e protocolos do Ministério da Saúde moçambicano.

Beneficiámos…
  • 34 profissionais de saúde de diferentes áreas, num total de 726 horas de formação.

 

Capacitação de membros da comunidade

Outra das atividades realizadas foi a capacitação e reciclagem do conhecimento dos denominados Agentes Polivalentes Elementares (APE) - que são membros da comunidade treinados para fornecer serviços básicos de saúde -, nas áreas identificadas como prioritárias. 

Capacitamos:
  • 22 APE em 8 sessões de formação rotativas em 5 centros de saúde.

Formação de Agentes Polivalentes Elementares, em Mutua. 

 

Formação de jovens ativistas

Contribuímos para o desenvolvimento de capacidades e para a formação de jovens de diferentes comunidades da região, tão importantes para a mudança e promoção de comportamentos de saúde positivos.

Envolvemos…
  • 50 jovens em formações de 18 horas.

Das formações constaram temas como higiene, doenças transmissíveis e não transmissíveis, nutrição, redução do estigma ou igualdade de género.

 

Implementação de programa de cuidados domiciliários

A descentralização do sistema de saúde e o envolvimento da comunidade são passos importantes para o fortalecimento e consolidação dos cuidados de saúde a pessoas em situação vulnerável em Moçambique. Por isso, implementámos um programa de cuidados primários, entre outubro de 2021 e março de 2022.

Realizámos…
  • 712 intervenções no domicílio em 9 meses.

Todos os casos identificados nos domicílios foram encaminhados para tratamento nas unidades sanitárias mais próximas, melhorando o acesso a saúde das pessoas vulneráveis.

 

Triagem e referenciação clínica 

As atividades de formação e capacitação de APE permitiram o desenvolvimento de capacidades no processo de diagnóstico e triagem de casos não tratáveis ao nível dos cuidados de saúde primários. Além disso, foi também criada uma ficha de referenciação para o projeto.

Referenciámos…
  • 1145 casos, que foram encaminhados para cuidados de saúde.

Os casos mais frequentes encontrados no terreno foram doenças ligadas a uma higiene deficiente. 

Formação de jovens ativistas, em Macharote.  

 

Atualização de conteúdos formativos

A Médicos do Mundo realizou a revisão e atualização dos conteúdos formativos da Academia de Formação & Nutrição Materno Infantil MAYI, em parceria com as autoridades locais.

Além disso, promoveu a formação de formadores da Academia, capacitando-os com os conhecimentos adequados das ciências em que assentam as atividades de parteira, designadamente de obstetrícia e de ginecologia, e conhecimentos das funções biológicas, anatomia e fisiologia no domínio da obstetrícia do recém-nascido, bem como conhecimentos das relações existentes entre o estado de saúde e o ambiente físico e social do ser humano e do seu comportamento.

 

Os testemunhos das nossas voluntárias

Trabalhar em Moçambique foi diferente de tudo aquilo que já fiz. Tive a oportunidade de (…) trabalhar de perto com uma equipa interessada, inteligente e diferenciada que consegue dar o melhor que pode aos seus utentes com o pouco que tem. Da minha parte, esforcei-me por apoiar, consolidar conhecimentos e incentivar o raciocínio clínico, mas sei, que no final de tudo, ganhei em Moçambique muito mais do que dei."

Inês Santos Silva
Médica Especialista em Medicina Geral e Familiar

Impressionou-me a capacidade dos doentes de se contentarem com pouco, apenas com o que têm. A população vive e tem o básico, desde o que comer, beber, vestir, calçar e cuidados de saúde. Percorrem longas distâncias à procura de uma unidade hospitalar. A ambulância, essa chega, mas após longos e longos quilómetros. Uma consulta feita com quase nenhuma privacidade pois na mesma sala decorrem outras mais consultas.”

Salma Mussagy Amade
Médica Pneumologista e formadora