MdM França

As mulheres que atravessam a floresta de Darién, entre a Colômbia e o Panamá, estão expostas a vários perigos. Por isso, no Dia Internacional da Mulher, relembramos a necessidade de não esquecer as situações de violência e de desrespeito pelos seus direitos.  
 

Como é a travessia da região de Darién para as mulheres migrantes? 

Só as crianças são mais vulneráveis do que as mulheres, quando se trata de atravessar a região de Darién. Muitas das mulheres que tentam fazer a travessia estão em situação de necessidade; estão ansiosas quanto ao destino que as espera; e estão expostas a vários tipos de violência. A floresta - localizada entre a Colômbia e o Panamá - é uma das rotas migratórias mais perigosas e uma das mais longas do mundo. 

De que forma a Médicos do Mundo (MdM) apoia estas mulheres?

A equipa da MdM, presente no campo de migrantes de Las Tecas, na Colômbia, apoia as mulheres migrantes que se preparam para atravessar a região de Darién, particularmente no que respeita à sua saúde sexual e reprodutiva. 

Disponibilizam vários métodos contracetivos adaptados às condições precárias associadas à viagem migratória das mulheres, bem como contraceção de emergência e de interrupção voluntária da gravidez. 

 

"Não sabemos exatamente o que estas mulheres vão encontrar na travessia, mas esperamos poder fazer a diferença. Claro que há muitas coisas que não podemos evitar", explica Camila Carjaval, supervisora médica. 

 

Muitas mulheres que atravessam a região de Darién não têm acesso a estes meios de contraceção, porque são caros no seu país de origem. E, por causa da falta de acesso aos serviços de saúde, muitas vezes só descobrem que estão grávidas durante os testes realizados pelas nossas equipas.

Estar grávida durante a travessia desta rota migratória de mais de 100 quilómetros em direção à América do Norte, é muito exigente e repleto de riscos de violência. Contudo, a MdM respeita e apoia as escolhas individuais que cada pessoa sente que deve fazer. 

Através de consultas médicas e de saúde mental, realizamos ações preventivas para impedir a violência baseada no género.

Num período de três meses, 3.216 mulheres migrantes beneficiaram dos nossos serviços de saúde na região: ​​​​

  • 473 mulheres migrantes usufruíram de serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo acesso ao planeamento familiar;  
  • 81 mulheres migrantes tiveram consultas individuais de saúde mental (695 fizeram parte de consultas de grupo); e 
  • 957 mulheres migrantes receberam informação sobre direitos sexuais e reprodutivos, bem como sobre a forma de prevenir a violência baseada no género e a exploração sexual.     
     

Uma viagem difícil. Uma viagem inevitável. 

Carolina é venezuelana. Faz parte de um grupo de 21 pessoas que inclui duas crianças. Está a fazer a viagem por causa dos filhos, que ficaram na Venezuela, pois considera que já não existem recursos económicos para continuarem a viver no país. 

 

"A minha motivação é a minha família e a minha filha. São a minha força motriz, o que me faz seguir em frente, para lhes dar um futuro melhor. Preparei-me psicologicamente, pois ouvimos muitas coisas sobre a região de Darién, mas é por ali que vamos atravessar”, conta.

 

Rosa espera reunir-se com os membros da família na Carolina do Sul, nos Estados Unidos, enquanto os dois filhos ficaram com o pai, no seu país de origem. Diz que prefere viajar em grupo, porque é a opção mais segura. 

 

"Tudo o que pedimos é que consigamos passar sem problemas. Decidimo-nos a fazê-lo porque precisamos mesmo de o fazer”, refere. 

 

Cada vez mais mulheres atravessam a região. Procuram segurança e uma vida melhor para a família, arriscando a sua própria saúde física e mental.  

Muitas mulheres iniciam a viagem sem saber da violência que irão encontrar, especialmente quando chegam ao lado panamiano. 

Hoje, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, apelamos à comunidade internacional para que não ignore a violência sexual e de género que as mulheres migrantes sofrem durante a sua viagem e para que denuncie o desrespeito pelos seus direitos em Darién.