Maysara Rayyes, médico de emergência e supervisor médico da delegação francesa da Médicos do Mundo, desde há dois anos, foi morto, juntamente com vários membros da sua família, na sequência de um bombardeamento, a 5 de novembro, que atingiu o prédio onde habitava, na cidade de Gaza. 

Apresentamos as nossas condolências e toda a solidariedade à sua família e à nossa equipa, que há várias semanas vive uma terrível provação.

Desde o início deste conflito, a Médicos do Mundo (MdM) tem condenado os bombardeamentos incessantes e indiscriminados do exército israelita, que continuam a matar um grande número de civis, os nossos colegas trabalhadores humanitários e os profissionais de saúde. Nesta ocasião trágica, reiteramos que o cessar-fogo é de uma urgência vital, para pôr fim a este massacre.

Maysara Rayyes tinha 28 anos e vivia na cidade de Gaza, no norte do território.

Depois de ter estudado medicina em Londres, decidiu regressar a Gaza para aí exercer a sua profissão. Há alguns dias, Maysara escreveu a um amigo:

"Quando vivo um momento feliz com a minha família, imagino que talvez as famílias que foram bombardeadas estejam também a ter um momento de felicidade, antes de serem mortas... Imagino-me debaixo dos escombros e fico assustado com a ideia de estar vivo soterrado debaixo da minha casa".

Por causa dos seus pais e sogros idosos, com mobilidade reduzida, Maysara não pôde deslocar-se para o sul, tal como foi ordenado pelo exército israelita. Tentou, no entanto, montar acampamento junto aos hospitais, para se proteger, mas nenhuma zona foi poupada.

Depois da sua casa ter sido bombardeada, Maysara Rayyes, a sua família e outros habitantes de Gaza ficaram debaixo dos escombros durante mais de 48 horas. A chegada dos bulldozers foi atrasada, devido à falta de combustível, essencial para os hospitais, as ambulâncias e as operações de busca. A missão de salvamento teve ainda de ser interrompida, devido aos bombardeamentos na zona. O número provisório de mortos é até agora de 14.

A MdM denuncia o facto de as pessoas detidas no norte da Faixa de Gaza serem tratadas como danos colaterais: são vítimas da decisão política de Israel de não dar prioridade à proteção da vida da população civil, dos profissionais médicos e das equipas humanitárias. 

Maysara Rayyes e a sua família pagaram com a vida.

"Hoje perdemos um dos nossos e membros da sua família. Os nossos pensamentos estão com a família de Maysara e com as nossas equipas no local. Esta tragédia poderia ter sido evitada se tivesse havido um cessar-fogo, que temos vindo a pedir há várias semanas”, refere Florence Rigal, presidente da delegação francesa da MdM. 

Há vários dias que a MdM tem dificuldade em manter o contacto com as suas equipas em Gaza, porque é frequente não haver acesso à Internet. 

"Continuamos muito preocupados com as nossas equipas no local. Esta situação tem repercussões para as pessoas que não podem contactar os serviços de emergência, para operações de salvamento. Sem comunicações, não podem saber que zonas foram bombardeadas nem contactar as suas famílias. Estas condições são intoleráveis e irrealistas. É praticamente impossível para os trabalhadores humanitários e o profissionais médicos cumprirem a sua missão: ajudar a população e salvar vidas", sublinha por seu lado Héléna Ranchal, diretora de Operações Internacionais da MdM França.