Kristof Vadino/Médecins du Monde

A Médicos do Mundo alerta para as necessidades humanitárias de milhares de migrantes no deserto de Assamaka, em Agadez, no Níger. A organização apela ainda à União Europeia para que reveja as suas políticas migratórias.

Cinco mil pessoas chegaram a pé a Assamaka

A Médicos do Mundo (MdM), que está presente na região de Agadez desde 2014, alerta para as terríveis condições em que se encontram milhares de migrantes expulsos da Argélia e abandonados em condições extremas na cidade de Assamaka, em pleno deserto (região de Agadez, local de passagem migratória, no norte do Níger). Entre janeiro e março de 2023, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), 7.700 pessoas exiladas, de origem subsariana (principalmente do Níger, Mali, Guiné, Nigéria e Serra Leoa), foram expulsas da Argélia e enviadas para a fronteira com o Níger. Cinco mil pessoas chegaram a pé a Assamaka e estão atualmente entregues a si próprias, em condições desumanas. 

Face à intensificação do fluxo de regressos e ao forte aumento do número de pessoas migrantes em direção a Agadez, desde o norte de África, nestes últimos meses, as organizações humanitárias locais e internacionais têm falta de recursos e de capacidade para disponibilizar ajuda vital a estas pessoas vulneráveis, não só em Assamaka, mas também em Arlit e Agadez. 

Um sofrimento psicológico extremo

“As nossas equipas médicas que disponibilizam cuidados de saúde na região de Agadez encontram homens, mulheres e crianças (incluindo menores não acompanhados), que, em alguns casos, fizeram muitos quilómetros a pé, em condições extremas, debaixo de temperaturas acima dos 40 graus. Estas pessoas encontram-se famintas e desidratadas. Necessitam de alimentação, água potável, de cuidados de saúde e de acesso a infraestruturas sanitárias. O seu sofrimento psicológico é extremo, tendo algumas destas pessoas sido vítimas de violência durante o trajeto, necessitando de estabelecer contacto com familiares e amigos. A situação humanitária é terrivelmente preocupante", conta o médico Topou Lancinet, coordenador geral da MdM no Níger.

A MdM está convicta da necessidade de mobilização de mais recursos financeiros e logísticos, e de reforçar a coordenação entre organizações humanitárias, atores da sociedade civil e instituições públicas, a fim de poder ajudar as pessoas afetadas.

Rever as políticas migratórias europeias

Para a MdM, esta crise humanitária é a consequência da externalização da gestão das fronteiras e das políticas migratórias cada vez mais rigorosas da União Europeia. Estas políticas de migração não respeitam o direito internacional, nem os direitos fundamentais destas pessoas exiladas.

  • A MdM apela à União Europeia a rever as suas políticas migratórias, para assegurar a proteção das pessoas exiladas de acordo com os direitos humanos, o direito internacional e os princípios humanitários.
  • A organização apela igualmente ao fim da detenção e repulsão de migrantes e requerentes de asilo da Argélia para o Níger.

A MdM deixa também o apelo à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) a assumir as suas responsabilidades, para garantir a segurança e a proteção das pessoas de origem subsaariana que se encontram encurraladas no Níger, apesar de terem manifestado o seu desejo de regressar a casa.

A intervenção da MdM no Níger

A Médicos do Mundo, que trabalha no Níger desde 2014, opera na região de Agadez, assim como nas regiões de Tahoua, Tillabéri e Niamey. A organização apoia instituições de saúde pública com a prestação de cuidados médicos e psicossociais a pessoas exiladas da Argélia ou de outros países africanos. Promove também o respeito pelos direitos dos migrantes, particularmente do seu acesso aos cuidados de saúde.