Pietro Chekal

A Médicos do Mundo está profundamente preocupada com as consequências que a escalada das hostilidades pode ter na vida da população civil do leste da Ucrânia. Na região, as infraestruturas estão danificadas, os serviços públicos são deficitários, a situação económica é difícil e há falta de oportunidades.

Enquanto a política internacional usa toda a diplomacia para evitar a escalada do conflito, a população civil na região vive há já algum tempo as suas consequências. Há quase oito anos que a população enfrenta uma crise humanitária permanente com impactos graves na sua vida, nomeadamente restrição de movimentos, escassez de bens essenciais e consequências nefastas para a saúde.

Numa população com mais de 30% de pessoas idosas, verificam-se dificuldades graves no tratamento de condições crónicas. Existem restrições nas deslocações, sendo que, em determinados locais, o único meio de transporte é um autocarro por semana, cerca de 35% das infraestruturas de cuidados primários de saúde estão danificadas devido ao conflito e faltam recursos ao sistema de saúde. 

A Médicos do Mundo (MdM), que trabalha desde 2015 junto à linha que separa as autoproclamadas repúblicas de Lugansk e Donetsk, está profundamente preocupada com as consequências significativas que a escalada das hostilidades pode ter na vida da população, que já vive com infraestruturas danificadas, serviços públicos deficitários e uma situação económica difícil, além da falta de oportunidades.

Sistema de saúde no mínimo 

As estruturas de saúde nas regiões em conflito de Lugansk e Donetsk foram gravemente afectadas desde 2014. À medida que o território de cada região foi controlado pelas autoridades de facto, o sistema de saúde foi perdendo parte das suas infraestruturas. Por esse motivo, o sistema tem dificuldades em disponibilizar cuidados médicos de qualidade à população que requer cuidados específicos. Uma situação difícil considerando que a maior parte da população que vive nestes territórios tem idade avançada e condições crónicas que requerem um cuidado médico constante.

A falta de meios e de recursos é um dos maiores obstáculos ao acesso a cuidados de saúde pela população: não existe uma unidade de cuidados intensivos para pessoas com doenças infecciosas; faltam médicos especialistas, como endoscopistas ou patologistas clínicos, pessoal médico nos cuidados primários e  profissionais qualificados; registam-se falhas no abastecimento de oxigénio e de medicamentos; e os trabalhadores da saúde sofrem de fadiga crónica, devido às condições e ao excesso de trabalho.

A já difícil situação é ainda pior no que respeita às populações vulneráveis, com quem a Médicos do Mundo trabalha na linha que separa as áreas controladas e não controladas pelo governo. A organização está a promover o acesso a cuidados de saúde da população, através de unidades móveis, cuidados primários e de saúde mental, medicamentos, entre outras ajudas.

Além disso, durante a pandemia da COVID-19, o sistema enfrentou muitas dificuldades devido ao conflito, o que provocou uma redução da disponibilidade e acessibilidade a serviços de saúde essenciais. Actualmente, pouco mais de 37% da população ucraniana está vacinada, um número que é mais reduzido nas regiões afectadas pelo conflito: apenas 13% em Lugansk e 16% em Donetsk.

Apelo ao governo ucraniano

Com base neste cenário, a MdM lançou um apelo ao governo ucraniano para que aumente o seu apoio às pessoas que vivem nas regiões afectadas pela crise e reforce o sistema de saúde. Também, todas as partes devem garantir a liberdade de movimentos e a segurança da população civil, assim como das equipas médicas e humanitárias. A ajuda humanitária é uma prioridade e deve ser assegurada por todas as partes a protecção das infraestruturas e dos profissionais de saúde.

A intervenção da MdM na região

Vilhove_UcrâniaCrédito: Pietro Chekal

Profissional da MdM assiste habitante da vila de Vilhove, no leste da Ucrânia.

A MdM, através de um trabalho conjunto entre as suas delegações de Espanha e da Alemanha, está a reforçar o sistema de saúde com o envio de unidades móveis para as áreas onde os centros de saúde têm escassez de recursos humanos. Estas unidades disponibilizam cuidados primários de saúde, de saúde sexual e reprodutiva, de saúde mental, e psicossociais, assim como medicação gratuita. 

A MdM tem ainda disponibilizado equipamento médico essencial a centros de saúde e reforçado o treino de profissionais, tanto nas áreas controladas, como não controladas pelo governo.

 

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