Nas vésperas da 7.ª Reunião de Altos Funcionários sobre o Iémen, marcada para 6 de Junho de 2025, em Bruxelas*, observamos com profunda preocupação que a situação humanitária se deteriorou significativamente desde a última reunião. Os cortes orçamentais sucessivos agravaram um cenário já frágil, dificultando o acesso à ajuda e travando os esforços de desenvolvimento.
Projetos interrompidos e ajuda em risco
Desde o início de 2025, muitos projetos humanitários foram suspensos. Isto resultou na interrupção do fornecimento de bens essenciais, serviços de saúde e infraestruturas críticas, como hospitais e centros de vacinação — especialmente importantes para mulheres e raparigas.
Sem alternativas imediatas, a situação continuará a agravar-se. A retoma destas intervenções tornar-se-á cada vez mais difícil e dispendiosa.
Ataques a infraestruturas e riscos para os trabalhadores humanitários
Nos últimos meses, infraestruturas civis foram destruídas em várias zonas do país, na sequência de ataques aéreos. Estes ataques, num país já fragilizado, têm consequências devastadoras para os civis — com mortos, feridos e um agravamento das condições de vida.
Além disso, os trabalhadores humanitários enfrentam riscos constantes. Muitos membros de equipas das Nações Unidas, de ONG internacionais e de organizações locais continuam detidos há quase um ano, o que levanta sérias preocupações quanto à sua segurança e bem-estar.
Respeito pelo direito humanitário e proteção dos civis
Apelamos a todas as partes envolvidas no conflito para que respeitem o direito internacional humanitário, protejam os civis e evitem atacar infraestruturas essenciais. Os Estados-membros das Nações Unidas devem dar prioridade às consequências humanitárias da escalada do conflito e reforçar os seus apelos à proteção de bens civis.
É igualmente urgente garantir que os trabalhadores humanitários possam cumprir a sua missão em segurança e que os detidos sejam libertados de forma imediata e incondicional.
Barreiras humanitárias e sanções restritivas
A nossa capacidade de prestar ajuda é frequentemente bloqueada por sanções e medidas restritivas, sobretudo no norte do Iémen. Estas barreiras dificultam transferências de fundos, acesso a bancos, fornecimento de bens e importações comerciais.
O impacto é nacional: o abastecimento de combustível, medicamentos, alimentos e equipamentos médicos está em risco, assim como o funcionamento de serviços essenciais.
Isenções humanitárias são fundamentais
Apelamos à comunidade internacional para que promova isenções humanitárias generalizadas. Estas são fundamentais para garantir a entrega de ajuda vital, proteger os princípios da ação humanitária e preservar o espaço de atuação das organizações no terreno
Mulheres e raparigas em risco
Mais de dois milhões de pessoas enfrentam riscos acrescidos, incluindo mulheres e raparigas, que estão particularmente expostas à violência e à deterioração da saúde mental. Sem apoio, muitas ficarão privadas de serviços que as protegem da depressão, automutilação e suicídio.
Fenómenos como o casamento infantil, tráfico de seres humanos, mendicidade e trabalho infantil estão a aumentar. A proteção deve ser uma prioridade desde o início de qualquer resposta humanitária — não uma reflexão tardia.
Apoio às organizações locais e lideradas por mulheres
Os cortes orçamentais afetam gravemente as organizações da sociedade civil, especialmente aquelas lideradas por mulheres. Muitas correm o risco de encerrar. É essencial que os doadores apoiem de forma incondicional estas organizações, reconhecendo o seu papel vital e promovendo a sua participação direta e segura nas ações locais e nacionais.
Financiamento direto e liderança local
Pedimos aos doadores que aumentem o financiamento direto e flexível aos atores locais, que são frequentemente os primeiros a responder. Quando forem necessários intermediários, o apoio deve servir para reforçar, e não substituir, a liderança local — com investimentos em colaboração, responsabilização, capacitação e partilha de riscos.
Um momento decisivo
Os desafios são enormes e o tempo é curto. A comunidade internacional deve agir com firmeza para evitar novas tragédias e danos irreversíveis. À medida que as dificuldades aumentam, também deve crescer a nossa determinação em agir com urgência e em respeito pelos princípios humanitários.
O povo do Iémen precisa de esperança. Não podemos abandoná-lo.
*Este encontro internacional reúne representantes de governos, agências das Nações Unidas, organizações humanitárias e doadores, com o objetivo de coordenar respostas, mobilizar financiamento e reforçar a proteção dos civis no Iémen.
A Médicos do Mundo no Iémen
Desde 2007, a Médicos do Mundo intervém no Iémen para prestar ajuda médica e apoiar as infraestruturas de saúde locais, reforçando assim o acesso aos cuidados de saúde no país, apesar dos inúmeros conflitos.