©Mohammed Zaanun

Será mesmo necessário relembrar o que está à vista de todos, na esperança de que os Estados Terceiros finalmente atuem para pôr fim ao genocídio em Gaza? Dois anos após o início da guerra, os civis enfrentam ataques cada vez mais intensos, ordens repetidas de deslocamento e fome.

08 de setembro de 2024

 

As equipas da Médicos do Mundo continuam a prestar cuidados, apesar de também serem afetadas, apelando a um cessar-fogo e ao acesso humanitário sem restrições.

 

Um pesadelo sem fim

 

Desde outubro de 2023, pelo menos 66.000 palestinianos foram mortos e 170.000 ficaram feridos. Quase 2 milhões de pessoas foram deslocadas — o que representa praticamente toda a população da Faixa de Gaza (9 em cada 10 pessoas)1.

Civis e hospitais têm sido sistematicamente alvo de ataques, enquanto a ajuda humanitária enfrenta obstáculos cada vez maiores. Desde o início do sistema de distribuição alimentar nos centros israelitas, a 27 de maio, pelo menos 2.340 pessoas que procuravam assistência foram mortas2

Em agosto, a fome foi oficialmente confirmada em Gaza3. Cerca de 455 palestinianos morreram de inanição, incluindo 151 crianças4.

Entretanto, as operações militares israelitas continuam a avançar rumo à destruição total e ao controlo da Cidade de Gaza.

 

 

Compromissos inabaláveis da Médicos do Mundo

 

Apesar dos enormes desafios, os nossos 150 profissionais em Gaza mantêm-se firmes no apoio às populações afetadas — mesmo quando enfrentam riscos pessoais. As nossas clínicas e escritórios foram repetidamente atacados, e o nosso pessoal médico testemunhou e sofreu múltiplas violações do direito internacional humanitário.

 

Com a ordem de deslocamento forçado que abrange a Cidade de Gaza, fomos obrigados a encerrar os nossos dois centros de saúde de cuidados primários e a deslocar as equipas para sul. As decisões de encerrar ou reabrir clínicas são agora revistas quase diariamente, devido à situação altamente volátil.

 

Ainda assim, ao redistribuir os nossos recursos, conseguimos aumentar significativamente o número de consultas nos centros que continuam operacionais. As atividades de apoio psicológico e saúde mental também prosseguem através dos nossos parceiros locais, Aisha e Juzoor.

 

Estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para ajudar os palestinianos em Gaza. Poderão os Estados Terceiros dizer o mesmo?

 

 

Gaza Call to Action

 

 

Reconhecer a Palestina não basta: os nossos apelos para pôr fim ao genocídio

 

Na 80.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, vários Estados reconheceram formalmente a Palestina, incluindo França, Bélgica, Luxemburgo, Malta, Andorra, Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal. No entanto, o reconhecimento por si só não é suficiente para travar a catástrofe humanitária em curso.

O que temos testemunhado desde outubro de 2023 está em linha com as conclusões do relatório da Comissão de Inquérito das Nações Unidas: um genocídio está a ser cometido em Gaza.

Apelamos:

  • À cessação imediata das hostilidades e deslocamentos forçados, e ao estabelecimento de um cessar-fogo permanente.
  • Ao acesso humanitário irrestrito em toda a Faixa de Gaza.
  • Ao respeito pelo direito dos palestinianos de liderar e assumir os seus próprios planos de reconstrução, em conformidade com os seus direitos inalienáveis, incluindo o direito à autodeterminação.

Enquanto decorrem negociações de paz, recordamos que um cessar-fogo permanente e o acesso humanitário irrestrito não podem ser tratados como moeda de troca: são exigências incondicionais.

 

Quanto mais tempo teremos de esperar — e quantas mais vidas terão de ser perdidas — até que os Estados Terceiros decidam verdadeiramente agir?