Mafalda Paquete tem 21 anos, é voluntária da Médicos do Mundo e ajuda-nos no Porto Escondido.

Desde que me conheço que tenho particular interesse em trabalhar com esta população vulnerável. Mesmo antes de ter maturidade para entender este assunto e a sua complexidade, já me questionava sobre a importância que todos aqueles que trabalhavam em equipas de rua podiam ter para estas pessoas. Pelo simples facto de os procuraram e se preocuparem. 

Médicos do Mundo

 

Antes de conhecer a Médicos do Mundo, já tinha saído para a rua com várias equipas para entregar comida e roupa. Ainda assim sentia que faltava alguma coisa. Que podia fazer mais. Quando surgiu a oportunidade de integrar o projeto Porto Escondido, pensei que poderia juntar o melhor dos dois mundos. Não perdia a hipótese de trabalhar o contacto com o utente e estaria envolvida num projeto de redução de riscos para a saúde publica (com o qual, enquanto estudante de medicina, me sinto muito próxima).

Com este projeto, conseguimos adaptar o serviço que prestamos à realidade de cada utente nosso. E é isso que os começa a fazer sentir parte de alguma coisa.

A grande maioria das pessoas que recorrem à Médicos do Mundo vivem isoladas. Seja qual for a razão ou a história que as levou até ali, quando as encontramos já não têm a quem recorrer. E a Equipa Técnica de Rua aparece aqui. Somos nós que nos dirigimos até eles. Não nos mantemos num escritório ou gabinete à espera de sermos procurados. Não os retiramos daquele que é um local seguro para eles para que possamos conversar.  

A Unidade Móvel da equipa técnica de rua é o nosso cartão de visita. É assim que somos distinguidos pela população no geral e, principalmente, pelos nossos utentes. Há processos neurológicos que nos fazem associar determinados objetos a determinados sentimentos. Eu gosto de pensar que a nossa Unidade Móvel representa, para tantas pessoas, um porto de abrigo. Para além disso, este é o nosso escritório. O nosso gabinete. É lá que a Equipa Técnica de Rua trabalha todos os dias. Inevitavelmente, as condições em que trabalhamos afetam diretamente o serviço que prestamos. Para além de devidamente equipada e identificada, este deve ser um local confortável e seguro para todos os que nele trabalham e principalmente para todos os que a ele recorrem. 

Estamos no caminho certo. Acredito que sempre que acabamos alguma coisa com a sensação de dever cumprido é sinal de que fizemos a nossa parte. E é isso que importa. Fazermos a nossa parte. Não podemos mudar o mundo, mas podemos e devemos fazer a nossa parte. Sempre que vejo que o número de pessoas em situação de sem-abrigo em Portugal está a diminuir ou que a taxa de incidência de HIV tem descido, sinto-me parte disto. E não há nada mais gratificante que isso. Estamos todos, voluntários e doadores, a trabalhar para um objetivo comum. E que objetivo! Uma sociedade mais inclusiva, onde todos temos direito a um acesso igualitário e gratuito aos cuidados de saúde. A uma sociedade que luta contra todas as doenças. Sendo a injustiça a mais perigosa delas todas

“Eu gosto de pensar que a nossa Unidade Móvel representa, para tantas pessoas, um porto de abrigo. Para além disso, este é o nosso escritório. O nosso gabinete. É lá que a Equipa Técnica de Rua trabalha todos os dias. Inevitavelmente, as condições em que trabalhamos afetam diretamente o serviço que prestamos. Para além de devidamente equipada e identificada, este deve ser um local confortável e seguro para todos os que nele trabalham e principalmente para todos os que a ele recorrem. “ – Mafalda Paquete, voluntária da Médicos do Mundo