Intitulado 'Este é o nosso medo mais profundo: perder não apenas as nossas casas, mas também a nossa história, identidade e futuro', o documento revela que as práticas observadas apresentam caraterísticas coerentes com a definição de tortura psicológica estabelecida pelas Nações Unidas.
Com base em dados clínicos recolhidos entre janeiro de 2024 e março de 2025 e em testemunhos das nossas equipas de saúde mental, o relatório descreve uma realidade alarmante: desde janeiro de 2025, operações militares nos campos de Jenin, Tulkarem e Nur Shams provocaram a maior vaga de deslocamentos forçados na Cisjordânia desde 1967, expulsando mais de 44 mil pessoas das suas casas.
As consequências psicológicas são esmagadoras:
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98% das pessoas acompanhadas apresentam sinais graves de sofrimento;
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96% relatam que a sua rotina diária foi profundamente afetada;
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Mais de metade sofre de perturbações do sono.
A população vive num estado permanente de hipervigilância, marcado pelos ataques constantes e pela expetativa do próximo ataque, sem tempo nem espaço para recuperar. Escolas são atacadas ou militarizadas, casas destruídas e a mobilidade severamente restringida. Até as intervenções humanitárias são interrompidas por incursões militares, colocando em risco equipas e comunidades.
O relatório documenta ainda que 70% das pessoas apresentam sintomas como sentimento de despero, stress crónico, transtornos psicossomáticos ou perda de esperança, e 74% enfrentaram múltiplos episódios de violência em apenas quatro meses. Estes dados revelam um padrão de exposição contínua ao trauma psicológico que impede qualquer recuperação emocional.
As crianças são particularmente vulneráveis, mostrando regressões no desenvolvimento, ansiedade extrema e a sensação de que não existe lugar seguro. Este ciclo de violência e medo alimenta um trauma transgeracional, que não é um episódio isolado, mas um processo contínuo que põe em risco a identidade coletiva palestiniana.
O relatório conclui que a recuperação psicológica só será possível com o fim da ocupação, conforme determinado pelo parecer consultivo do Tribunal Internacional de Justiça. Entre as recomendações, a Médicos do Mundo apela para:
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Garantir o fim da ocupação;
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Cessação de práticas que possam constituir tortura psicológica;
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Restabelecimento do acesso à saúde mental e à assistência humanitária;
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Proteção do mandato da UNRWA;
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Levantamento das restrições de movimento que impedem o acesso a direitos básicos.
Pode haver recuperação psicológica sem justiça, liberdade e garantias de que não se repetirá? O relatório afirma claramente que não.
Leia o relatório completo (disponível em inglês).
