Francisca* tem 46 anos e vive com o companheiro numa escola abandonada em Lisboa. Ali, entre corredores vazios e salas que já não têm alunos, tenta construir um lar improvisado. Desde junho, aquele espaço esquecido tornou-se o seu refúgio — ou, pelo menos, o mais próximo disso. 

3 de setembro de 2025
 

Antes de chegar ali, passou por um centro de acolhimento. Foi lá que conheceu o companheiro, com quem decidiu partilhar a vida — mesmo que isso significasse deixar o abrigo e enfrentar a rua. A decisão não foi fácil, mas para Francisca, a companhia e o afeto pesaram mais do que a segurança de um teto.

A sua história familiar é marcada por conflitos. Foi expulsa da casa da tia pelo próprio irmão e passou três dias a dormir à porta, sem alternativa. Conseguiu depois um quarto, mas o custo tornou-se insustentável. Voltou ao ponto de partida: o centro de acolhimento. 
 

A saúde de Francisca também carrega cicatrizes. Sobreviveu a três AVC, que deixaram sequelas no lado esquerdo do corpo e dificultam a mobilidade. Vive num contexto de grande vulnerabilidade física e emocional.
 

Foi a Equipa Técnica de Rua da Associação Vida Autónoma (AVA) que sinalizou a sua situação, devido a uma possível gravidez. A Equipa Técnica de Rua em Saúde da Médicos do Mundo interveio: despiste de gravidez, avaliação dos sinais vitais e apoio psicossocial. 

A história de Francisca é feita de escolhas difíceis, de perdas e de resistência. Mas também é feita de encontros: com profissionais que não desistem, com gestos que cuidam, com planos que apontam caminhos. E, acima de tudo, com a esperança de que, mesmo entre paredes que já não protegem, ainda é possível reconstruir.
 
*Nome fictício