Michele Lapini

O novo Pacto Europeu sobre Migração e Asilo é um falso novo sistema, que não dá resposta aos problemas essenciais. Somos contra este novo documento e, por isso, vamos estar vigilantes, denunciando qualquer violação dos direitos fundamentais.  

Após quatro anos de negociações, o Pacto Europeu sobre Migração e Asilo foi adotado por uma escassa maioria de deputados do Parlamento Europeu, antes de ser enviado ao Conselho Europeu para votação pelos Estados-membros, por maioria qualificada.

O que dizer do desfasamento entre o texto adotado e a ambição inicialmente declarada quanto ao equilíbrio entre solidariedade e segurança? Os textos inclinam-se perigosamente para o eixo da segurança e do controlo das fronteiras, esquecendo os percursos migratórios legais e seguros essenciais, bem como as ambições de uma reforma que considere as diferentes componentes, incluindo a da integração.

Com esta votação, é clara a vontade política manifestada: manter o maior número possível de pessoas fora do território europeu, apesar da sua procura por segurança.

Para tal, recorre-se a procedimentos de rápida regulação do acesso ao asilo nas fronteiras, que limitam o acesso aos cuidados de saúde e à assistência jurídica, e implicam, de facto, centros de detenção.

Os mecanismos de "solidariedade" não obrigatórios para a recolocação completam estas perspetivas sombrias, permitindo aos Estados-Membros escolher entre o acolhimento voluntário e uma compensação financeira duvidosa.

Por último, o retorno rápido a países terceiros considerados "seguros" atesta a vontade de externalizar a aplicação de políticas migratórias que não refletem nem a responsabilidade, nem a solidariedade coletiva.

Este novo Pacto, a que a Médicos do Mundo (MdM) demonstrou a sua oposição, é um falso novo sistema que não dá resposta a problemas críticos das pessoas.

A MdM e a sua Rede Internacional vão permanecer vigilantes, denunciando qualquer violação dos direitos fundamentais, nomeadamente do direito de acesso a cuidados de saúde, no âmbito da aplicação da nova regulamentação.